"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


quinta-feira, 19 de julho de 2007

Nosso crime não compensa

As sentenças aplicadas pelo juiz federal, Carlos Henrique Haddad para os hackers, também chamados de “batatas”, que operavam de forma fraudulenta, realizando saques e transferências nas contas de clientes, de diversas instituições bancárias de longe parecem rigorosas demais. Penas de 10, 12, 15, até 21 anos de reclusão foram aplicadas a três por dois. Fica a idéia de que o rigor tem o propósito de desestimular a juventude futura, que porventura pense que o crime compensa. É natural, afinal, ninguém (nem mesmo os batatas) supunha que os delitos de 2002, 2003 e dos anos seguintes algum dia bateriam à porta, exigindo prestação de contas. Às sentenças ainda cabem recursos, o que equivale dizer que dificilmente alguém vá parar na cadeia nos próximos dias, mas tem-se a impressão que a justiça, ainda que tardia, está sendo feita.
Nesse caso, uma surpresa para alguns, mas não exatamente para os mais atentos. A presença na lista dos réus de personagens insuspeitos, que infelizmente ajudaram escrever uma página triste da cidade, revela duas coisas. Desde o início se sabia que muita gente cultivava o péssimo hábito de pagar suas duplicadas, via internet, utilizando os preciosos préstimos dos batatas. A segunda situação é a possibilidade de que outras figuras tenham conseguido passar impunemente pelo crivo da justiça. Que aprendam a lição e evitem incorrer no mesmo erro no futuro.
No frigir dos ovos, convenientemente para muitos, o grupo de jovens descolados, que se divertia em noitadas regadas a uísque, red bull e belas garotas pagou a conta. Na época, sob os olhares e aplausos da população, mais de duas dezenas de batatas foram levados para o presídio, para um confinamento de 81 dias, enquanto a polícia concluía o inquérito. Era a primeira operação da Polícia Federal (depois pintaram outras), mas ao que parece e para alívio de muita gente na cidade, não houve uma maré de “entregação”, daí a pouca quantidade de empresários condenados, o que não quer dizer que outras pessoas não fizeram uso do sistema viciado pilotado pelos piratas cibernáticos.
Hoje se sabe que o negócio (se é que se pode chamar isso de negócio) atravessa a chamada fase de vacas magras, não tem mais o glamour de outras tempos. Em outras palavras: é bananeira que já deu cacho. Ficou, porém, certeza que o crime definitivamente não compensa.

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