"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


domingo, 8 de novembro de 2009

Pobres moços

Começo o artigo com uma dúvida infernal e logo num detalhe que eu pouco dou atenção: o título. Ora, o título poder ser qualquer coisa, mas dessa vez eu me preocupei. Cogitei um bem pomposo ‘o verdadeiro PT está fora do poder’, mas acabei ficando com o que aí está, ‘pobres moços’, numa justa homenagem aos verdadeiros petistas.

Pois bem, esses moços torcem o nariz para a empáfia inesperada de antigos e novos companheiros, que de uma hora para outra, guindados ao topo atropelam a moralidade construída ao longo dos anos; outros se surpreendem (coitados!) com a recente riqueza, com as fazendas, prédios, condomínios, empresas grandiosas, de quem até pouco tempo, só tinha o dia e a noite porque o Criador, na sua generosidade nunca negou o levantar do sol e o cair da noite aos bons e aos maus; há os que se revoltam com o desemprego da maioria da base, logo ela que levou sobre si o desgaste do primeiro mandato e garantiu que o segundo seria bem melhor; há ainda os que se apavoram com a possibilidade da entrada do PMDB no governo, imagina, em 2008 garantiram a plenos pulmões, que o partido da deputada Bel Mesquita, o partido de Jáder Barbalho não passava de uma gangue ansiosa em botar as mãos na grana do povo. Pobres moços... Não imaginam (aliás, uma hora dessas já devem imaginar) que a trupe da Bel, com Welney e tudo não passava de uma turma de aprendizes diante da fúria petista e de seus aliados que conseguiram fazer desaparecer R$ 400 milhões em 2009, sem ter ao menos a desfaçatez de apresentar uma obrinha aqui, outra ali, para colocar pelo menos uma nuvenzinha de poeira nos olhos do povo.

Pobres moços, sofrem com a consciência de que também são culpados. A melancolia estampada na cara de cada um não apaga a realidade de que mesmo sabendo que estavam para entrar numa camisa de onze varas, se foram pelas ruas a saracotear e a espalhar aos quatro ventos que a turma de Darci Lermen era o que o mundo tinha de melhor. Hoje eles têm a exata consciência de que era um devaneio, mas, ainda assim pesa sobre esses moços o argumento que eles sabiam; sabiam sim, mas a vaidade de ter o partido no poder falou mais alto.

Entre as inúmeras virtudes que esses moços têm, um pequeno senão foi determinante para mais quatro anos de retrocesso; para o petista a consciência crítica vale menos do que os dogmas partidários. Hoje eles sabem de cor e salteado que o verdadeiro PT está fora do poder, longe das suas benesses e prerrogativas, muito perto de carregar o ônus de uma administração desastrosa. Esse ônus levará muitos anos para ser expurgado. Aliás, o verdadeiro petista repensa o partido para além de 2013.

(artigo publicado no jornal HOJE, edição 390 - Coluna do Marcel)

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