"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


sábado, 17 de abril de 2010

Antes tarde do que nunca

Nos seus momentos de sabedoria explícita, a velha gorda costumava brindar os presentes com algumas pérolas. Se não fossem as preciosas verdades que se escondiam em meio a alguns palavrões e respostas “atravessadas”, se diria que a velha estaria “bicuda”. Ainda que fosse adepta de uma boas talagadas, quando ela se reunia para destilar algum veneno e provérbios interessantes ele se abstinha da cachaça. Não era de sua autoria, mas ela costuma dizer que era melhor aprender tarde do que morrer besta. Os pensadores, os eruditos talvez dissessem que era mulher mudar de idéia do que não ter idéia para mudar.

Trocando em miúdos, ao fim e ao cabo, os dois ditos populares representam a mesmíssima coisa e poderiam ser aplicados ao recuo do Poder Executivo, que em boa hora mandou matéria para Câmara revogando o aumento da Unidade Fiscal do Município (UFM). O projeto de lei foi aprovado, na segunda-feira, numa sessão legislativa extraordinária. Não se sabe as razões que fizeram o Executivo mudar de idéia, afinal de contas, sensibilidade social nunca foi seu forte, mas, é melhor tarde do que nunca.

É preciso dizer que aprovação já foi uma pixotada em dose dupla. Do Executivo que foi o autor da idéia maravilhosa e do Legislativo, que no afã de sair para o recesso do final de ano, não analisou o projeto com a profundidade que o caso requeria e muito menos as suas implicações.

De repente, com se fosse uma sangria desatada, todos os segmentos da cidade se voltaram contra a Administração Pública ameaçando romper o frágil equilíbrio que ainda existe. Mototaxistas, vanzeiros e taxistas, revoltados com a majoração de 100% passaram a ameaçar paralisar o tráfego da cidade; comércio, indústria e prestadores de serviços com os alvarás de funcionamento nas alturas pressionaram a Associação Comercial, que por meio da sua assessoria jurídica expediu comunicado dizendo que a cobrança era inconstitucional, o que na prática significava dizer ninguém deferia pagar. No plenário da Câmara, o vereador Faisal disse com todas as letras que o cidadão não deveria pagar a nova tarifa de água.

Não seria exagero dizer que o clima de insatisfação por pouco não desaguou em anarquia geral. Para evitar a completa desmoralização, a prefeitura passou a negociar com cada segmento a redução das taxas. Primeiro foi o transporte alternativo, depois, foi a vez dos comerciantes, que também receberam a promessa da redução da taxa.

Não restava alternativa. Desse episódio desastrado deve ficar ao menos a lição de que a sociedade não agüenta mais tanto arrocho, principal mente quando se sabe que o dinheiro que entra nos cofres do município desaparece de maneira misteriosa e sem a devida prestação de contas.

(artigo publicado no jornal HOJE - edição 409 - Coluna do Marcel)

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