"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto".

(Rui Barbosa)


domingo, 26 de setembro de 2010

O temporal

Nada indicava que aquela tarde de domingo seria diferente de centenas de outras. Nas últimas semanas o verão afogueado que caracterizou a estação, dava mais uma demonstração de que seria mais um dia daqueles.

No estádio, cerca de 2 mil torcedores, encarapitados nas arquibancadas viviam a expectativa da final do campeonato. A paixão pelo futebol fizeram-no deixar o fim de tarde regado a cerveja e caipirinha nos barzinhos da praça, que mesmo contando com essa imperdoável indiferença, exibiam o movimento costumeiro. Da mesma forma, os balneários da periferia, acolhiam os farofeiros, que como de costume, iriam se encharcar de manguaça no domingão de final de verão.

De repente veio o temporal, mas não foi um temporal qualquer. Como diria a velha gorda, foi um toró de cavalo beber água em pé. Como num relance, lá pras bandas do Rio Verde, o horizonte foi escurecendo e no meio do nada, a tormenta chegou e o céu desabou literalmente sobre a cidade.

Para descontos de pecados, a noite chegou rapidamente e se misturou ao negrume natural, a falta de estrelas e o blecaute, ocasionado pelo desabamento de alguns postes de energia elétrica. Na parte alta da cidade não se via quase nada. Além da escuridão sem fim, pontilhada por raros pontos de luminosidade dos geradores dos hotéis e hospitais só se via rajadas de vento, que varriam a cidade a mais de 100 quilômetros por hora e arrastavam tudo o que encontravam pela frente.

O ápice do pandemônio, porém, ainda estava por vir e se materializou em forma de uma chuva torrencial e violenta que lavou o asfalto, entupiu bueiros e destelhou casas. O espetáculo da natureza não dispensou placas de publicidade, muros, postes de energia elétrica e árvores do canteiro central. Um prédio comercial não agüentou a tormenta e se curvou diante da força da natureza, se transformando num amontoado de escombros.

Tem gente que jura que caiu granizo, outros temeram por um desatino da natureza, tipo tromba d'água, enquanto os mais religiosos atestavam que era o fim do vale de lágrimas. Bobagem, nem tanto a terra, nem tanto ao mar. Agora que a tempestade de domingo já entrou para os anais da história, isso é fato. Daqui a 15, 20 anos vamos ouvir histórias avarandadas, nas quais os avôs contarão aos netos a correria do dia em que cavalo bebeu água em pé no “Peba”.

(artigo publicado no HOJE, edição 430 - Coluna do Marcel)

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